Dólar supera R$5,70 com descrédito da política fiscal e acumula alta semanal de 4,61%
Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) – O dólar fechou a sexta-feira em alta e acima dos 5,70 reais, com os receios em torno da política fiscal do governo Lula se sobrepondo ao exterior, onde a moeda norte-americana cedia ante a maior parte das demais divisas na esteira de algumas notícias positivas da China.
O dólar à vista fechou o dia em alta de 0,71%, cotado a 5,7004 reais. Com isso, a divisa completou a terceira semana consecutiva de ganhos ante o real, com elevação acumulada de 1,51% nos últimos cinco dias.
Somente em outubro o dólar já subiu 25 centavos de real, acumulando alta de 4,61%.
Às 17h24, na B3 o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,74%, a 5,7020 reais na venda.
A moeda norte-americana oscilou no território positivo no Brasil durante praticamente todo o dia, a despeito do ambiente global mais favorável ao risco após alguns anúncios da China.
O país asiático informou que seu Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre subiu 0,9% ante os três meses anteriores e teve alta de 4,6% em relação ao terceiro trimestre de 2023. Economistas ouvidos pela Reuters projetavam elevações de 1,0% e 4,5%, respectivamente.
Já a produção industrial chinesa subiu 5,4% em setembro na comparação anual, ante 4,5% projetados, enquanto as vendas no varejo avançaram 3,2% no mês passado, ante 2,5% das projeções.
Para além dos números, o Banco do Povo da China solicitou às instituições financeiras que aumentem o apoio ao crédito para a economia real e deu início a duas iniciativas para injetar 112,38 bilhões de dólares em seu mercado de ações.
O noticiário da China, apesar de misto, fez o dólar ceder em relação às demais moedas fortes e ante a maior parte das divisas de emergentes, em um ambiente de busca por ativos de maior risco.
O Brasil era uma exceção. Por um lado, o real era penalizado por mais um dia de queda do minério de ferro e do petróleo — produtos importantes na pauta exportadora brasileira.
Por outro, a divisa brasileira foi novamente penalizada pelas preocupações quanto ao equilíbrio fiscal do governo Lula.
“O mercado está desacreditando das promessas do governo, que fala e não mostra nada de concreto na área fiscal. Assim, quando o dólar cai sempre aparecem compradores refazendo posições na moeda”, comentou o diretor da Correparti Corretora, Jefferson Rugik.
Essa desconfiança com a área fiscal fez o real ser uma das moedas mais enfraquecidas no mercado global nesta sexta-feira.
“O cenário local aqui (está) pesando desde cedo. Tanto que, ao menos durante boa parte da manhã, estávamos com o pior desempenho entre todas as moedas emergentes e ligadas a commodities”, comentou o diretor da assessoria de câmbio FB Capital, Fernando Bergallo.
“O mercado (está) ampliando seu ceticismo, de forma agora consistente, em relação à capacidade do governo em cortar gastos”, acrescentou.
Neste cenário, após registrar a cotação mínima de 5,6297 reais (-0,54%) às 9h01, logo após a abertura, o dólar à vista escalou até uma máxima de 5,7035 reais (+0,76%) às 16h39, pouco antes do fechamento.
O pessimismo com as contas públicas sustentou as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) e o dólar ante o real ainda que não tenham surgido nesta sexta-feira, na avaliação de profissionais ouvidos pela Reuters, notícias novas — nem positivas, nem negativas — no front fiscal.
Durante evento em São Paulo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, voltou a dizer que o Brasil precisa crescer de forma sustentável. No mesmo evento, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sinalizou a abertura de crédito especial para pessoas prejudicadas pelo apagão em São Paulo.
No exterior, no fim da tarde o dólar seguia em queda ante as divisas fortes e ante a maioria das moedas de emergentes. Às 17h21, o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — caía 0,30%, a 103,470.
No fim da manhã o Banco Central vendeu todos os 14.000 contratos de swap cambial tradicional ofertados em leilão para rolagem do vencimento de 2 de dezembro de 2024.
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Fonte:
Reuters